O começo é a metade do todo.

Como disse Platão, o começo é a metade do todo. E esse é o nosso começo.

Quando nossas metades se encontraram e começaram a trilhar nosso caminhos juntos.

Quando mesmo sem querer nos tornamos um.

E, quando ainda sendo dois, nos tornamos a Família da Serra.

Tudo parecia confuso, nebuloso. Pela primeira vez na minha vida eu me via sem planos - ou com meus planos frustrados por um crise renal - sem calcular friamente qual seria meu próximo passo.

Eu só sabia que não queria estar no Rio. Já era um ótimo começo.

Um amigo me liga dizendo que havia me inscrito para a prova de Residência do Ministério da Agricultura. Especialização? Pensei. Logo eu que estou fugindo da vida acadêmica...

Entre fazer a prova e me encontrar dentro do Aeroporto do Galeão foi um pulo.

Não, a Residência não era em outro estado, era inspecionando as cargas que chegavam e saiam do país. Segurança para o nosso agronegócio, barreiras fitossanitárias.

Claudio trabalhava numa empresa credenciada a tratar as cargas que apresentavam algum problema.

Eu, fiscalizando.

Como parte de "suborno" ele chegou na nossa sala com bombom e simpatia. Sempre mantendo um sorriso tímido de canto de boca. Ah, o garoto do bombom... Era assim que eu me lembrava dele.

A sensação de conhecimento era inevitável, eu tinha certeza que já o tinha visto em algum lugar.

Não seria difícil, estudamos na mesma universidade, colegas em comum, lugares...

Nada além disso. Mas essa sensação perdura até hoje.

Em menos de uma semana, parecíamos amigos há anos. Ele não precisa dizer, eu só precisava pensar.

Uma conexão que inexplicável e que ainda se mostra viva em nosso dia a dia.

Casal perfeito, né?

Só que não. O Claudio era casado, eu namorava.

Bonito mesmo é quando tudo acontece por acaso. Sem planos, sem data, sem horário. Pura coincidência ou apenas destino. Você não conhece as pessoas por acidente...

Lembro com a clareza do dia de hoje. Uma amiga que era residente no Porto do Rio foi passar uns dias no aeroporto pra conhecer o trabalho de um outro ângulo. Amiga daquelas que te conhece, sabe? Depois de um dias, entre trabalho e almoços ela disse: "Nath, se eu não te conhece e não conhece o Claudio e soubesse que você tem namorado e ele é casado, de longe, eu diria que são um casal.

Eu ri. Conclui com um "Cê tá louca? Nada a ver."

Mal sabia eu que tudo estava para mudar.

Meu namoro estava me sufocando. Muitas brigas, ciúmes e, para mim, relacionamento tem que ser leve, tem que somar. Aquilo não estava bom.

Nunca fui daquelas que pára o mundo por um relacionamento.

Sempre namorei, mas, estranhamente, já tinha até planejado minha inseminação artificial aos 35.

Então, sem nem pensar, eu pedi um tempo. Precisava colocar a cabeça em ordem.

Mas no dia seguinte fui pedida em casamento no meio do meu trabalho.

Seria lindo, se não fosse horrível. Disse não, sai dali com raiva.

Não sentia nada e ainda estava me sentindo invadida.

Irritada. Confusa. E não sabia eu o que estava acontecendo.

Do outro lado, o Claudio já estava se separando. Por diversos motivos que só ele explicaria.

Pior momento para viver qualquer coisa.

E, no meio dessa confusão, alguns sinais.

Um olhar firme pelo espelho retrovisor do carro. Um esbarrar de mãos que davam choque.

Um susto no show do Green Day. Um quase primeiro beijo.

Um beijo.

Finalmente a confirmação de tudo o que a gente já sabia.

Nossos 50% de chance de dar certo. E deu.

Bonito mesmo é quando tudo acontece por acaso. Sem planos, sem data, sem horário.

Pura coincidência ou apenas destino.

Você não conhece as pessoas por acidente...

E com a gente foi assim.

Definitivemente, já era amor antes de ser.